terça-feira, 29 de novembro de 2005

Um problema chamado Matemática

"Temos ofertas de emprego, mas não temos alunos para elas". O desabafo traduz o dilema do director do Curso de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho (UM), António Pontes. Única licenciatura do país exclusivamente vocacionada para os materiais plásticos, sem desemprego dos licenciados (há dificuldade em responder às ofertas), depara-se, porém, com "alguma quebra" na procura por parte dos alunos. O cenário, diz, tem vindo a melhorar, e este ano o curso já teve 23 inscritos (17 no ano anterior). Mas ficaram dois lugares por preencher. A divulgação não estará a dar os melhores resultados, admite, não obstante o "Dia Aberto" (a universidade abre-se às secundárias) e os kits pedagógicos para as escolas. "Na Matemática, reside a questão fundamental", aventa. O Departamento de Engenharia de Polímeros (Guimarães) alberga projectos de investigação amplamente premiados. "Não é por acaso que temos mais de 50 investigadores nacionais e estrangeiros. Mas, ainda não conseguimos a visibilidade suficiente para termos muitos e bons alunos. O panorama em Portugal é complicado na área das tecnologias, o que levanta um problema para o futuro". António Pontes não tem dúvidas de que este é um sector cada vez mais emergente. "O Minho/Galiza tem enorme potencial no desenvolvimento de polímeros. Há parcerias com indústrias, anuncia-se o "cluster" do automóvel e as empresas começam a instalar-se muito nesta zona", argumenta. Muito antes deste cenário prometedor, Paulo Pereira optou pelo curso. Depois da Licenciatura, passou pela indústria e voltou à UM, onde está a fazer o doutoramento. "Os alunos, hoje, optam mais por cursos de Humanidades. As Ciências, pela sua ligação à Matemática, ressentem-se disso, apesar das múltiplas saídas profissionais".

in Jornal de Notícias 28 de Novembro 2005

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Peça biodegradável para carros

A Universidade do Minho (UM) está a desenvolver o protótipo de um componente automóvel a partir de produtos naturais, como o amido de milho e a celulose. O objectivo é substituir o plástico convencional da tampa do altifalante da porta do condutor por uma peça natural com "impacto zero no ambiente". Este acessório biodegradável será apresentado à indústria automóvel no final do ano.
Este projecto é desenvolvido pelo Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) - a funcionar no pólo da UM, em Guimarães -, pelos departamentos de Biologia e Engenharia Biológica da UM (Braga), pela Universidade de Vigo e pelo Centro Tecnológico de Automoción de Galicia (CTAG). A investigação, que é financiada pelo Interreg em 75%, custa cerca de três milhões de euros e arrancou em Julho de 2004.
António Cunha, um dos investigadores, explicou que o projecto termina em Dezembro deste ano, altura em que a equipa apresentará o protótipo da tampa do altifalante da porta do condutor à indústria automóvel.
Esta investigação vai ao encontro das necessidades da indústria automóvel que, cada vez mais, procura introduzir materiais com menor impacto ambiental. "A maior parte dos plásticos é adquirida sinteticamente. Se os conseguirmos obter a partir de produtos naturais, o impacto ambiental será reduzido", sublinhou.
Por isso, a equipa está "a desenvolver soluções de materiais compósitos a partir de matrizes poliméricas naturais - amido ou ácido láctico - e reforços naturais - a celulose".
Os investigadores querem, assim, usar materiais de origem natural, reforçados com fibras também naturais, com propriedades capazes de resistir às especificações exigidas pela indústria automóvel.
O também presidente da Escola de Engenharia disse que "a única peça comercial que existe, em plástico natural com fibra, é a cobertura do pneu suplente do Toyota Raum, que é fabricada em poliácido láctico, reforçado com fibra Kenaf (é uma fibra natural de uma planta asiática)".
No futuro, a equipa pretende usar proteínas em vez do amido de milho, mas sem disparar o custo de venda dos veículos no mercado. Também tenciona trabalhar directamente com a indústria automóvel, incluindo a europeia, noutro tipo de componentes biodegradáveis.
Este protótipo surge no âmbito do projecto NaturPlas, que visa a criação de um centro virtual de desenvolvimento de compósitos biodegradáveis.
Segundo António Cunha, o NaturPlas destina-se a "tentar desenvolver métodos e explorar possibilidades de aplicação de materiais naturais (plásticos de origem natural com fibras naturais) em aplicações convencionais, nomeadamente para a indústria automóvel".
in Diário de Notícias 7 de Novembro 2005